sexta-feira, 27 de julho de 2012

Buenos Aires x Curitiba

Então, não dá para atualizar o blog todos os dias né? Tenho que otimizar meu tempo ao máximo nesse um mês, mas nos momentos de descanso eu gosto de escrever aqui minhas aventuras em terras portenhas. Pois bem, essa primeira semana foi de reconhecimento. Ainda estou me familiarizando com a cidade, com os sistemas de transporte público e com a rotina dos argentinos.

Ônibus, achei engraçadinho. Aqui a gente tem que dizer ao motorista para onde vai e ele nos diz o preço que se deve pagar, e não existe cobrador, o motorista digita no sistema o valor escolhido e a máquina ao lado recebe suas moedinhas e dá o troco certinho. Porém não são novos, nem muito limpos, mas por meros 55 centavos de real nem vou exigir maravilhas. E convenhamos, os argentinos podem ser bem topetudos pra muitas coisas, menos para o sistema de transporte coletivo, o nosso modelo curitibano ganha disparado. Metrô ainda não utilizei, me limitei a conhecer os pontos turísticos na Recoleta e próximos dela, para depois cair na cidade de metrô.
Os taxis, bem, é como nas outras cidades, há mais taxi do que gente e basta levantar a mãozinha que já parara um preto e amarelo ao seu lado. Estou começando a achar que Curitiba é exceção também nos sistemas de taxi, mas nesse caso negativamente. Se uma mulher grávida esperar um taxi em dia de chuva ou horário de pico é capaz de parir ali mesmo no meio fio. Aquele nosso problema básico de falta de autorização para veiculação de novos taxis que faz do serviço artigo de luxo, mas por outro lado, impede a superlotação de veículos... Bem, uma longa discussão!

As quadras são largas, então quando um argentino falar que você vai andar dez quadras, acredite serão dez grandes quadras. Os prédios são altos, com fachadas antigas e pés direitos altíssimos e possuem sistema de calefação em todo lugar. Aqui, se investe nisso ou se tem uma hipotermia pela noite. Mentira! Estou exagerando, não posso dizer que estou passando frio aqui em Buenos Aires, hoje, por exemplo, estavam felizes dez graus e tinha sol. Bem, se for considerar o nosso tempinho filho da mãe em Curitiba, não vou passar tantos perrengues aqui por conta de frio. 
Minhas reclamações até agora são quanto ao lixo. Bem que me disseram que não encontraria uma cidade muito cuidada, e de fato, no primeiro dia fiquei assustada com a quantidade de lixo na minha rua que fica em um bairro nobre da cidade. Mas isso não tem só haver com limpeza pública, como também com conscientização da população. E por falar em conscientização, até agora não vi lixeiras de separação de lixo, no meu apartamento, por exemplo, o lixo é misturado. Posso estar generalizando, mas quando falei em sala de aula, sobre destinação correta de lixo e sistemas de reciclagem a turma toda ficou curiosa.

Outra coisa que está um pouquinho difícil de me acostumar é a rotina dos notívagos portenhos. O dia deles começa duas horas depois da nosso, almoços são ao meio dia, porém o meio dia deles é as duas da tarde, jantar as onze da noite e com comida pesada, carne, vinho, sobremesas com sorvete e doce de leite, acordam tarde e pela quantidade de comida que ingeriram a noite, o café da manhã fica limitad a uma xícara de café. Eu cresci com a teoria que devemos tomar café da manhã como um rei e jantar como um mendigo, então ainda estou penando para acostumar com essa diferença. Ahh, as baladas por exemplo começam às três da madrugada, em Curitiba esse horário eu já estou pensando seriamente em ir para casa dormir.
Ficam aqui algumas diferenças e algumas curiosidades básicas. Nada que qualquer pessoa não possa descobrir se ler qualquer artigo sobre o país. Mas aqui você pode ler sob o meu ponto de vista, ou seja, o de uma curitibana chata!

Beijos   

terça-feira, 24 de julho de 2012

Primeiro dia em Buenos Aires

Fui dormir à uma da madrugada e acordei às sete da manhã. Precisava chegar na Escola às oito para fazer meu teste de nivelamento e saber qual classe começaria as aulas. A escola fica a quinze minutos andando do alojamento, assim não teve erro, cheguei certinho no meu destino. Mas antes parei no Burguer King para tomar café da manhã, sim no BK daqui existe café da manhã. Queimei a língua no café e comi duas medias lunas.

Mas a frustação me perseguiu logo na primeira hora dentro da escola. Meu cartão internacional simplesmente não passou e eu fiquei com aquele sorriso amarelo na frente das secretárias.  Corri ao caixa eletrônico mais próximo e saquei o máximo de pesos que consegui para deixar como entrada na promessa de resolver o problema em seguida. Fiz o teste de nível e felizmente fiquei no intermediário, ou seja, minhas aulas de espanhol em Curitiba não foram em vão. De volta em casa entrei na internet e facilmente fiz meu pagamento on line, quitando minhas aulas na escola e ficando livre do sorriso amarelo.

Já que somente teria aula a tarde, aproveitei a manhã para comprar um cartão de ligações internacionais e ligar para minha mamãe avisando-a que cheguei muito bem, mas que continuava com uma dor de garganta insuportável, ela falou que rezaria por mim e eu desejei que suas orações fizessem efeito o quanto antes.

A tarde fui à aula. Penei um pouquinho no primeiro momento por causa da metodologia diferente que estava acostumada na escola em Curitiba, mas esforçada que sou logo peguei o jeito. As aulas são divididas em duas horas de gramáticas e duas horas de conversação. Eu achei ótimo, assim já aprendemos na prática o que vimos na teoria.

À noite, topei ir jantar com minhas colegas brasileiras em um restaurante em Puerto Madeiro. E a vontade de ter internet no celular começou a me dominar. A mania de fazer checkin no FourSquare cada vez que chego em um lugar tomou conta e me fez pensar seriamente em comprar um chip de uma operadora argentina. 

E sobre o restaurante, desejei muito que houvesse restaurantes do tipo em Curitiba. Paguei cerca de R$55,00 e comi tudo que você pode imaginar, desde comida italiana até carnes típicas argentinas e lembrei que esse valor equivale à um jantar no Madero, por exemplo. Não estou menosprezando, adoro Madero, sou fã, mas o mesmo preço que paguei no restaurante equivale à um queijo coalho, um sanduiche com hamburguer assado na grelha com batatinhas, chopp e um petit gateau do Madero (a melhor sobremesa curitibana, vale lembrar, e todo o resto muito bem feito). OK, não se compara! Esquece!!!! 

Mas em questão de quantidade, nunca comi tanto e tão bem por tão pouco. Destaque para a sobremesa, crepe de doce de leite, que me fez acreditar no comentário de que os argentinos são reis do doce de leite. Quando vou na Mercearia Bresser, sempre peço uma sobremesa com doce de leite argentino. Mas comer doce de leite argentino na Argentina é muito mais gostoso.  Ahhh, o nome do restaurante, La Bisteka, fica a dica!

Na volta para casa, pegamos taxi com um senhor apaixonado pelo Brasil, foram vinte minutos de histórias sobre sua viajem de aniversário de 50 anos ao Rio de Janeiro e elogios a nossa terrinha. Perguntamos o que ele mais gostou no Brasil e ele respondeu: os brasileiros. Desci do taxi pensando que nem nós mesmos, brasileiros, damos tanto valor ao nosso próprio país e fui dormir orgulhosa.  

Primeira impressão

Dizem que a primeira impressão é a que fica, espero que não.

Perrengues nos vôos, claro. Como a moça ao meu lado enjoando nas chacoalhadas do avião para SP, não sabia se tinha mais dó dela ou medo do vômito sobrar para mim, chá de cadeira na conexão com crianças argentinas gritando pela sala de espera, trinta minutos trancada dentro do avião depois do pouso no Ezeiza porque os adoráveis ônibus que nos levam até o saguão de desembarque não estavam disponíveis, frio na barriga quando pronuncio minhas primeiras palavras em espanhol “naranja, sin hielo por favor”, sabendo que a partir daquele momento eu só deveria falar esse idioma, fila imensa na alfândega, decepção com a minha mala que apareceu com as rodinhas quebradas e pensamentos negativos como "que cagada eu fiz de viajar em um domingo a noite".

Mas tudo bem, por que eu estava indo para minha viagem em Buenos Aires, então nada tiraria minha animação, certo? Errado! Ainda na fila interminável da alfândega começo a sonhar com a cena de encontrar a pessoa que estaria na saída do aeroporto me esperando com a plaquinha “Adriana Melo”. Mas claro que das dez pessoas que seguravam plaquinhas nenhuma tinha o meu nome. Quando começa o desespero telefono para a escola e descubro que, de fato, não haveria uma pessoa me esperando, todo o serviço de transfer estava pago e bastava eu procurar a empresa de remises e me identificar que eles me levariam até minha futura casa. Até agora estou sem entender por que essa informação não ficou clara para mim, ou melhor, por que cargas d’agua eu não fiz questão de entender exatamente como funcionava o serviço de transfer. Só perdôo a falta de “clareza”nas informações da escola porque o motorista era muito bonito (de barba, terno e bom gosto musical) e o carro era chiquérrimo.

Depois disso, o pior aconteceu. Descoberta a empresa de remisses percebi que precisava de água e fui atrás de uma bendita garrafa com meus pesos recém sacados do caixa eletrônico. O problema foi que o caixa só me deu notas de cem pesos e nenhuma (eu disse nenhuma) lanchonete do aeroporto aceitou minha nota.  Em certo ponto até é justo, já que eles não tinham troco para o valor alto, porém estou tão acostumada com o vendedor brasileiro não aceitando desculpas para recusar uma venda, a ponto de andar quadras atrás de troco, que aquela cena me pareceu o inferno. Entrei no carro sem água, cansada e com uma vontade imensa de deitar na cama e chorar.

Mas, como tudo na vida, basta um segundo para as coisas mudarem. Cheguei à minha casa e a secretária da escola junto com a minha colega de quarto foram me receber no portão. Colega de quarto super forte, diga-se de passagem, me ajudou a subir a escadaria da casa com a mala pesada quando eu estava nos últimos resquícios de força. Receberam-me com abraços, conversas, doces argentinos deliciosos e até um copo de Quilmes, cerveja argentina que eu jurei de pé junto que só beberia quando chegasse em Buenos Aires.  Desejo realizado!

Ou seja, para quem estava com vontade de deitar na cama e chorar por causa da primeira impressão horrorosa que tive da grosseria dos argentinos, acabei indo dormir feliz pela boas vindas das meninas no meu endereço nos próximos trinta dias. E depois, analisando melhor, que bom que não comprei a água no aeroporto, uma garrafinha de 500 ml me custaria 17 pesos e depois, no mercadinho do lado de casa, comprei uma garrafa de 2,5 litros por meros 5 pesos.  

Amanhã falo da casa, das colegas, da escola e de todo más.. grande beso chicos!