Perrengues nos vôos, claro. Como a moça ao meu lado enjoando
nas chacoalhadas do avião para SP, não sabia se tinha mais dó
dela ou medo do vômito sobrar para mim, chá de cadeira na conexão com crianças
argentinas gritando pela sala de espera, trinta minutos trancada dentro do
avião depois do pouso no Ezeiza porque os adoráveis ônibus que nos levam até
o saguão de desembarque não estavam disponíveis, frio na
barriga quando pronuncio minhas primeiras palavras em espanhol “naranja, sin
hielo por favor”, sabendo que a partir daquele momento eu só deveria
falar esse idioma, fila imensa na alfândega, decepção com a minha mala que apareceu com as rodinhas quebradas e pensamentos negativos como "que cagada eu fiz de viajar em um domingo a noite".
Mas tudo bem, por que eu estava indo para minha viagem em
Buenos Aires, então nada tiraria minha animação, certo? Errado! Ainda na fila
interminável da alfândega começo a sonhar com a cena de encontrar a pessoa que
estaria na saída do aeroporto me esperando com a plaquinha “Adriana Melo”. Mas
claro que das dez pessoas que seguravam plaquinhas nenhuma tinha o meu nome.
Quando começa o desespero telefono para a escola e descubro que, de fato, não
haveria uma pessoa me esperando, todo o serviço de transfer estava pago e
bastava eu procurar a empresa de remises e me identificar que eles me levariam
até minha futura casa. Até agora estou sem entender por que essa informação não
ficou clara para mim, ou melhor, por que cargas d’agua eu não fiz questão de
entender exatamente como funcionava o serviço de transfer. Só perdôo a falta de
“clareza”nas informações da escola porque o motorista era muito bonito (de
barba, terno e bom gosto musical) e o carro era chiquérrimo.
Depois disso, o pior aconteceu. Descoberta a empresa de
remisses percebi que precisava de água e fui atrás de uma bendita garrafa com
meus pesos recém sacados do caixa eletrônico. O problema foi que o caixa só me
deu notas de cem pesos e nenhuma (eu disse nenhuma) lanchonete do aeroporto
aceitou minha nota. Em certo ponto até é
justo, já que eles não tinham troco para o valor alto, porém estou tão
acostumada com o vendedor brasileiro não aceitando desculpas para recusar uma
venda, a ponto de andar quadras atrás de troco, que aquela cena me
pareceu o inferno. Entrei no carro sem água, cansada e com uma vontade imensa
de deitar na cama e chorar.
Mas, como tudo na vida, basta um segundo para as coisas mudarem. Cheguei à minha
casa e a secretária da escola junto com a minha colega de quarto foram me
receber no portão. Colega de quarto super forte, diga-se de passagem, me
ajudou a subir a escadaria da casa com a mala pesada quando eu estava nos últimos
resquícios de força. Receberam-me com abraços, conversas, doces argentinos deliciosos
e até um copo de Quilmes, cerveja argentina que eu jurei de pé junto que só
beberia quando chegasse em Buenos Aires. Desejo realizado!
Ou seja, para quem estava com vontade de deitar na cama e
chorar por causa da primeira impressão horrorosa que tive da grosseria dos
argentinos, acabei indo dormir feliz pela boas vindas das meninas no meu
endereço nos próximos trinta dias. E depois, analisando melhor, que bom que não
comprei a água no aeroporto, uma garrafinha de 500 ml me custaria 17 pesos e depois,
no mercadinho do lado de casa, comprei uma garrafa de 2,5 litros por meros 5
pesos.
Amanhã falo da casa, das colegas, da escola e de todo más..
grande beso chicos!