sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Minha primeira vez com Chico Buarque de Hollanda

A primeira lembrança que tenho de Chico Buarque foi de minha mãe varrendo a calçada e cantando “A banda”. Eu, ainda pequena, mal sabia de quem era a canção ou do que se tratava, mas na euforia infantil de imitar o exemplo materno peguei uma vassourinha de brinquedo e sai resmungando sons de deveriam ser da mesma música que minha mãe cantarolava. Rendeu uma boa foto. Penso que minha mãe deve ter escutado muito essa música em sua infância. Quando Chico ganhou o Festival da Música Popular Brasileira com essa música, que o lançou na carreira, em 1966, minha mãe tinha apenas 9 anos.

A segunda lembrança que tenho foram das incansáveis sambadas ao som de Macunaíma na Aoca Bar, do Trio Quintina no Empório São Francisco e dos Milagrosos Decompositores no Era Só o que Faltava, que interpretavam as músicas mais dançantes do artista. Não renderam boas fotos, mas renderam um repertório buarqueano imenso e, claro, momentos inesquecíveis com amigos ao lado.

Chico Buarque se tornou parte da minha vida. Desde lembranças de infância, até canções dedicadas para namorados ou mesmo incessantes giros sambando com as amigas. Toda vez que vou limpar a casa pergunto se minha mãe lembra daquela música “Estava atoa na vida e o meu amor me chamou” e ela sempre completa a frase e cantamos juntas. A música “O meu amor” já foi tema de romance que incluíam legenda de fotos apaixonadas com trechos como “Eu sou sua menina, viu? E ele é o meu rapaz”, ou ainda, que melhor amiga minha não vai lembrar das centenas de vezes que erguíamos a mão para o céu, sambávamos e cantávamos “Todo dia ela faz tudo sempre igual”.

Hoje, 16 de dezembro, uma noite quente de primavera, fui assistir o show ao vivo do Chico Buarque no Guairão. Coloquei meu vestido de flor, sapatilha cor de rosa e batom cor de boca. Cheguei ao Teatro às 21h05min e desci o corredor da plateia correndo, dois segundos depois ele abriu o show.



Num primeiro momento uma euforia imensa tomou conta de mim e eu pisquei os olhos algumas vezes para me certificar que ele estava mesmo há alguns metros de mim. Na segunda música a euforia passou e veio a emoção, quando ele começou a cantar “essa pequena”, do novo disco, eu desabei a chorar. E “chorei, chorei, até ter dó de mim”. Em certo momento eu já não sabia mais se chorava por ele ou por mim. Só parei quando ele cantou “Geni e o Zepelim”. Taí um cantor que até quando coloca bosta na letra de uma música consegue parecer um cavalheiro.

Silencioso. Amiga ao meu lado perguntou “Ele só vai cantar e não vai falar nada?” e eu respondi “Ele não precisa”. Foram meia dúzia de frases, entre elas um boa noite Curitiba, a apresentação dos músicos e um muito obrigada no final. Silencioso não, eu diria tímido, por que apesar de não ser de muitas palavras carismáticas com o público, ele abusa das letras cativantes que cantam e encantam a alma e o coração da gente.



Certa vez ouvi uma crítica sobre a falta de letra nas músicas de Amy Winehouse, em sua defesa José Simão falou “com uma voz dessa, para quê letra?” e sobre Chico Buarque eu diria “com letras como essa para que simpatia?”. Suas letras são poesias. De artistas simpáticos o mundo musical está cheio, basta ir em um show de música baiana ou sertaneja que com certeza metade dele será interação com o público com muitos “eu amo vocês”. Sou humilde, Chico Buarque pode nem saber da minha existência e ainda assim ele sempre fará parte da minha.

Intimista, isso sim, com certeza. Quem nunca parou para se perguntar quem seria Nina, Aurélia, Aurora ou a moça de cabelos cor de abóbora?
O momento mais descontraído no palco talvez tenha sido quando chamou o baterista Wilson das Neves para dividir “Sou eu” e “Tereza da Praia”. Chico nos seus 67 anos, parecia um menino encabulado cantando ao lado do expansivo Wilson. E de menino ele tem muito não só o jeito retraído, até rap ele cantou da política “Cálice”, e deu bis duas vezes seguidas para a alegria da plateia e para o quase ataque do coração de alguns.


Ainda fiquei algumas boas horas depois do show em estado merecido de êxtase.





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