segunda-feira, 23 de julho de 2012

Moça Urbana vai viajar

Foto do Blog "Cuentos de Miguel de Loyola"
E como uma boa moça urbana que sou, escolhi a capital da Argentina, Buenos Aires, para passar os próximos trinta dias. Nada contra turismo rural, cidadezinhas calmas do interior ou ecoturismo, até gosto de relaxar em uma bela praia ou na chácara do meu tio, faz bem quando a gente quer acalmar a mente e o coração. Mas eu prefiro mesmo é o movimento das cidades grandes, essa multidão de pessoas de todos os tipos, essa quantidade de informação a cada segundo.

Por isso escolhi Buenos Aires, um dos dez centros urbanos mais populosos do mundo com cerca de três milhões de habitantes. Daria quase duas Curitiba, sem contar na região metropolitana porteña que somando chega na casa dos dez milhões de habitantes. Não sei exatamente se o cálculo é esse, descoordenada com a matemática que sou. Também escolhi a cidade por causa do intenso inverno no mês de julho, pois sou da opinião que se for para passar férias no frio, que seja em outra cidade. Tudo bem que as minhas férias são por tempo indeterminado, mas a ideia permanece.

Por último, e muito importante, escolhi a cidade pela língua, claro. Tenho paixão pelo espanhol e desde agosto do ano passado estou estudando o idioma. Entrei de cabeça nos estudos para afugentar pensamentos depressivos e funcionou bem, desde então planejei a viagem e me dediquei a aprender o máximo dessa língua tão parecida e ao mesmo tempo tão diferente da nossa. Como diz o ditado, há males que vem para o bem. Assim, comprei um mês de aulas intensivas de espanhol na cidade para poder me aperfeiçoar e quem sabe quando voltar ao Brasil, conseguir um emprego que exija o conhecimento na língua. Deus me ouça!

Agora você pode me questionar que se meu desejo era fazer um curso de espanhol eu poderia bem ter escolhido uma cidade da Espanha não tão turística quanto Buenos Aires. E eu acho justa sua pergunta. Porém, entre passar um mês na Argentina e duas semanas em Barcelona, por exemplo, prefiro ficar um mês viajando. Inclusive, ouvi uma crítica ferrenha de um ex-diretor que disse que eu não aprenderia nada de espanhol na Argentina, que o espanhol deles  é horrível, que falam muito inglês, que tem muito brasileiro, entre outras críticas que de início discordo, mas não vou argumentar, pois prefiro conferir com meus próprios olhos e depois dar uma opinião com conhecimento de causa. E outra, cada um sabe onde dói no bolso né? Quem passou a vida viajando acha que é muito bonito criticar quem está fazendo suas próprias oportunidades.

A ideia inicial era morar em Buenos Aires, me mudar para cá e passar pelo menos seis meses. Mas a coragem me limitou a um mês apenas de aventura. Quem se sustenta não pode se dar o luxo de largar tudo e viver de alfajor e vinho. Vontade não faltou, claro, mas ainda estou descobrindo meu lado desprendido da família e da terra natal. E fora fugir dos problemas rotineiros, tive outro motivo que me fez pensar em, de fato, largar tudo e correr pra Recoleta, mas nesse caso o motivo dependia de outras fontes e o motivo só era suficientemente grande para mim mesma, decidi aperfeiçoar o espanhol e voltar para continuar a carreira na área da comunicação que tanto amo.

Por fim, muito bom saber que tenho pessoas que torcem por mim, saber que tenho a coragem de dar uma radicalizada na vida quando assim ela me exigir e saber que farei tudo com meu próprio esforço, o que pra mim é um orgulho tremendo. Agora é aprender a me virar em Buenos Aires.. Vou postar no blog assim que conseguir, certamente terei cenas bem engraçadas para compartilhar. Beijos aos que ficaram e que sentirei saudades!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Sobre tempo e comprometimento

Nos últimos cinco anos, exceto férias, finais de semanas e feriados, acordei todos os dias às sete horas da manhã, tomei banho, me arrumei e sai correndo para pegar o ônibus e ir ao mesmo lugar: o meu trabalho.

Nossa, foram cinco anos. Nesse tempo eu realizei tanta coisa: me formei, fiz uma pós. Quando eu penso que foram cinco anos me dá um frio na barriga! Para você cinco anos parece muito ou pouco tempo? 


Para meu pai, um senhor que trabalhou a vida inteira no mesmo lugar, cinco anos é pouco tempo e eu fiz a maior besteira em deixar meu emprego. Para ele as pessoas devem se aposentar na mesma empresa que começou, e antigamente era assim que funcionava. Mas o tempo é relativo. Hoje em dia, segundo pesquisas sobre a Geração Y que lemos por aí, cinco anos parece muito tempo para se ficar em uma mesma empresa.

Sobre a dita cuja Geração Y: são os nascidos na década de oitenta, possuem facilidade com as tecnologias, pois já que nasceram na época digital, e justamente por isso são multitarefas, precisam de novidades o tempo todo e gostam de desafios. Porém, e exatamente por esses motivos, são taxados de teimosos, distraídos, superficiais, insubordinados, entre outros não tão bons adjetivos. Mas o que mais dói quando falam da Geração Y é como aquela meninada não tem comprometimento com o trabalho. O motivo? Não hesitam em correr atrás de uma oportunidade que lhe ofereça melhor equilíbrio entre retorno financeiro e vida pessoal.
Para começar, “falta de compretimento” é apenas um ponto de vista. Primeiro, já trabalhei até às três horas da manhã sem hesitar, sempre me dediquei ao meu trabalho durante o tempo que estive na empresa e quando me despeço de uma organização, por mais pressa que tenha, preciso ter certeza que meu trabalho estará em boas mãos. Nunca, em nenhum momento, desrespeiei a empresa, mas também não desrespeitei meus princípios. Ou seja, existe um outro sentido para comprometimento que diz respeito ao comprometimento com nós mesmos.

Tenho colegas de classe que trocaram de carreira, largaram a comunicação e foram ser felizes fazendo cupcakes, tocando percussão, escrevendo poesias. Sinceramente, para nós, se sentir satisfeito com o trabalho, trabalhar com o que se gosta, faz parte do comprometimento profissional. A partir do momento que você se compromete a trabalhar com determinado serviço ou empresa, nada mais justo que você faça bem feito, seja em um cargo administrativo no banco, trabalhando em tabelionato, analista de comunicação da Petrobrás ou assessor de imprensa terceirizado.

Só que comprometimento com o trabalho não tem nada haver com viver infeliz. Pelo contrário, em qualquer leitura da área de gestão saberemos que colaborador satisfeito é colaborador produtivo. Ou seja, já estava na hora de uma geração assumir a satisfação pessoal também como uma das características para um emprego.

Cinco anos: enfim, talvez os meus "cincos anos" não tenham sido "muitos" (espero que não). Comecei como estagiária quando cheguei toda dona de mim querendo aplicar a teoria aprendida na faculdade e depois de algumas rasteiras peguei exatamente o funcionamento da empresa. Aprendi muito. Fui contratada, elaborei procedimentos, apliquei novas ferramentas, sempre para melhorar a comunicação da organização. Confiaram a mim muitos e bons projetos com os quais tive a oportunidade de ganhar experiência profissional.

Uma colega, em uma conversa, comentou “qual o assessor que não gostaria de estar a cinco anos na mesma empresa e dominar todos os processos”. Mas a síndrome Geração Y me dominou e por mais que eu adorasse o lugar que eu trabalhava eu sentia que precisava de novidades, eu queria mais. Porém, como nunca fui a menina rica dependente dos pais, esse processo de desligamento demorou um tempo. Pensei, repensei, ponderei, planejei minha saída em seis meses. Encerrei meus cinco anos em uma determinada empresa para buscar novos horizontes na área de comunicação.

Como eu coloquei nas redes sociais no meu último dia de trabalho, despedidas são estranhas, um misto de alegria pela realização profissional e uma tristeza por deixar para trás um lugar que fez, por muito tempo, parte de minha vida. Enfim, só tenho a agradecer a oportunidade de aprender, desejar sucesso para a organização e correr atrás do meu futuro.

Em tempo: Três pessoas que pelo tempo que passei na empresa se destacaram pra mim
coragem, humildade, inteligência, profissionalismo, imparcialidade e carinho

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quartas de novena

Hoje na saída da novena percebi como as pessoas são egoístas. Não que eu não tivesse certeza disso antes, mas fiquei impressionada como as pessoas conseguem ser egoístas mesmo dentro de um ambiente de oração para aquele cara que só pediu para “fazer o bem, sem olhar a quem”.

Novena? sim, para quem não me conhece eu vou na novena as quartas-feiras. Pode não parecer, eu sei, não sou um doce de pessoa, não faço o bem ao próximo (mas também não faço o mal), não me doo às causas e ideais (mas também não as desmereço), não faço caridade (desconfio da filantropia), já atropelei algumas pessoas de caminhão várias vezes (em pensamento, obviamente), xingo muito com meus botões  e falo palavrão adoidado.
Mas tudo bem, não me esforço muito para ser o cordeiro, desde criança tenho muito mais aptidão para ovelha negra, mas não falarei sobre isso agora. O que quero dizer é que até os porra-loucas tem Deus no coração ou, no mínimo, algo para acreditar. 
Ahh e também sou egoísta, pois vou à novena rezar por minhas intenções particulares, como todas as outras pessoas do mundo, e era exatamente  sobre isso que eu queria falar. As pessoas terminam uma oração e saem da igreja se empurrando e se encarando de cara feia. Não existe o “aguarde o desembarque” nem na saída da missa.
Tem um momento específico, o tantum ergo – aqueles versos de São Tomás de Aquino cantados durante adorações e bençãos do santíssimo sacramento – quando as pessoas se ajoelham e rezam no final da novena. Nesta quarta, um daqueles casais fofos que vão juntos de mãos dadas para a igreja durante a vida toda quase derrubou uma moça ajoelhada no meio de sua oração na tentativa de chegar mais perto da saída da igreja antes dos demais.
Com tudo isso, percebi que quando o padre abençoa no final da missa “ide em paz e que o senhor vos acompanhe” as pessoas respondem “graças a Deus” no sentido de alívio e não no sentido de gratidão. Fico um pouco decepcionada com isso.
Você reza “perdoai nossas ofensas, assim como nos perdoamos a quem nos tem ofendido” e virando as costas para a imagem da santa, reclama do velhinho na frente que anda sentido a saída vagarosamente por causa da idade.

Óbvio que não espero que as pessoas sejam hipócritas e finjam uma bondade inexistente, mas dá para ser pelo menos educado com os demais até chegar em sua própria casa? Entre suas quatro paredes cada um pode fazer o que quiser, desde que não perturbe os vizinhos, claro. Mas enquanto estiver em sociedade, o respeito ao próximo é o mínimo que alguém pode fazer para honrar o que o cara disse sobre “fazer o bem, sem olhar a quem”.

 
Ilustração de Bina Rikari