domingo, 8 de janeiro de 2012

Sorte

Esse é um post “meio” nojento, já vou avisando, por que nem só de poesia vive o homem.



Na Toscana dizem que quando o cocô de uma pomba cai na cabeça significa boa sorte. Não sei se esse ditado vale só na Toscana, ou em toda a Itália, por que ainda não conheci o país e porque por aqui nada ligado a cocô tem boa simbologia. Mas confesso que hoje de manhã pensei comigo mesma que não me importaria se um cocô bem grande de pomba caísse na minha cabeça.

Não que eu seja a pessoa mais azarada do mundo, nem de longe. Desculpem-me os azarados, mas, em algumas coisas eu até tenho sorte. Apesar de duvidar disso em algumas situações, como quando atravessando a rua, uma velha louca começa a gritar comigo e jogar cebolas na minha cabeça – pior foi só perceber na terceira cebolada, pois os fones de ouvido me impediram de ouvir os xingões – ou quando dois cachorros resolvem me atacar na rua quando eu passei do lado do dono deles que tinha acabado de subir em uma bicicleta. Mas isso acontece com todo mundo, quem nunca levou cebolas na cabeça ou foi atacado pelas criaturas que você mais gosta quando esta atrasada para chegar ao trabalho? Azar é só um termo de afeição e não uma condição permanente.

Pensando nisso no caminho de volta do mercado de domingo pedi aos céus um sinal. Eu queria muito um sinal, algo que me mostrasse que tudo ficaria bem, por mais confusa, receosa e amedrontada que estivesse me sentindo nesse dia. Foi quando um senhor não me viu atravessando ao lado do seu carro, deu uma escarrada que veio do útero (que ele não tem, claro, mas algo grande daquele jeito só poderia ter vindo do útero, pois o que saiu de sua boca foi praticamente um aborto) e cuspiu algo grande, verde e gosmento a um centímetro de meus pés. Parei, atônica, com a maior cara de asco do universo. O senhor, quando me viu, para não ficar para trás, fez a maior cara de susto do universo.

O que eu poderia fazer naquele momento? Ficaram os dois parados se olhando. Respirei, exclamei “que nojo”, fiz uma cara de “arghhh”, pulei a gororoba que saiu do pulmão do senhor e fui embora dando risada. Posso não ser a pessoa mais sortuda do mundo, mas ao menos sou um pouquinho otimista e quem sabe aquele foi o meu cocô de pomba curitibano?

Ou, no mínimo, eu sei fazer piada do próprio azar. Afinal, o que é mais difícil nessa cidade, uma pomba defecar justamente na sua cabeça quando sobrevoa um céu cinza infinito ou um senhor distraído, resfriado (dentro dos muitos que habitam a capital paranaense e que sofrem frequentemente com as mudanças climáticas constantes desse lugar) e um pouco mal educado digamos por soltar um catarro gigante em qualquer lugar. Achar que estava sozinho na rua de uma cidade de 1.851.215 habitantes é egocentrismo demais, não?

Catarro, eu falo catarro, não é nada elegante, eu sei. Modéstia a parte, mas podemos comparar como uma mulher de salto alto comendo asinha de frango frito, não é nada sexy, eu garanto. Mas se Chico Buarque pode cantar bosta e puta em uma música e continuar perfeito, eu posso escrever catarro, escarro e gororobas e continuar uma tentativa de “blogueira”, certo? Ou simplesmente falando da vida, para quem quiser ler algo diferente e nesse caso um pouco nojento.

Chegando em casa liguei a TV e adivinha? Estava passando “Sorte no Amor”, aquele filminho teen com a Lindsay Lohan. Achei graça demais na coincidência, já que tudo que eu havia pensado o dia inteiro era exatamente essa tal de sorte no amor, se é que ela existe. Vou jogar na mega sena amanhã, não dizem que sorte no amor equivale a azar no jogo? Segundo Leminski, “sorte no jogo, azar no amor, de que me serve sorte no amor se o amor é um jogo e o jogo não é o meu forte, meu amor?"


Enfim, acredito em sinais, acredito em compensações da vida, como aquelas que acontecem no primeiro dia do ano quando você passou a manhã em crise de choro e a noite recebe uma mensagem daquelas que te faz suspirar ou quando você está cansada, numa viagem longa de  ônibus voltando para casa, tudo que quer é dormir e recebe outra mensagem, daquelas que te tira o sono porque o tamanho do teu sorriso é incompatível com a vontade de fechar os olhos e não pensar em nada.

E assim caminha a humanidade, com muito mais compensações do que questões de sorte ou azar e com muito desejo de que tudo dê certo, um dia, quem sabe logo, se depender dos meus estranhos, e um pouco asquerosos, sinais.

2 comentários:

  1. adorei Dri....dei muitas risadas deste texto.

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  2. voce escreve realmente bem, simples e muito divertida!! eh bom ler coisas que te fazem pensar na vida, ainda mais quando você vive ou ja viveu aquilo que está escrito!
    pode ter certeza que as compensações serão maiores que o ''azar''.
    soh não procure demais, e sim deixe vir até você, assim como uma onda vem até à beira da praia e traz consigo todo o esplendor e aquele gelado arrepiante!

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