terça-feira, 10 de maio de 2011

Pai

Apesar de hoje ser apenas dois dias depois do dia das mães, eu vou escrever sobre meu pai. Sempre brinco que ele ficou com tantos ciúmes das mães sendo presenteadas no segundo domingo de maio que ele resolveu nascer justamente na mesma época. Então nessa época lá vou eu comprar presente para minha mãe e meu pai.

Presente para minha mãe foi fácil. Meu irmão sondou a preferência dela, me passou as coordenadas e lá fui eu comprar na segunda loja que entrei. Já para meu pai foi complicado comprar presente, passei um dia inteiro rodando as lojas sem saber o que comprar, meu irmão não ajudou muito também, quando eu perguntava para ele o que dar de presente para nosso pai eu só ouvia “não sei, mas compra que eu divido o valor com você”.  Vamos ver o que minha mente criativa me diz para dar de presente. Ok, ela não foi tão criativa assim, resolvi dar a mesma coisa que dou todos os anos: roupas.

Meu pai é um homem muito simples, estudou até a quinta série apenas, nunca aprendeu a dirigir, se limitou a trabalhar toda a vida no seu primeiro emprego, mas é de um bom gosto para roupas tremendo. Ele trabalha como eletricista em uma secretaria do estado, mas quando chegava no trabalho bem poderia ser confundido com qualquer um dos diretores da instituição. Depois de assinar seu ponto ele trocava sua roupa impecável, camisa de manga longa e calça social, por outra calça e camisa social, porém mais simples, e saía com seu guarda-pó e sua maleta de ferramentas.

Cresci dentro desta instituição, desde pequena iria para o trabalho com ele. Já fiz cursinho de informática e participei de milhões de festinhas dos funcionários. Até já fiz estágio lá por duas vezes, uma no segundo grau e uma na faculdade de relações públicas. Ele também já arranjou estágio e emprego para muita gente por lá, minha mãe, meus primos, minhas amigas. Onde eu passo escuto “essa é a filha do Zito”, único lugar que conseguiram achar outra forma para chamá-lo além de Seu Carlos, pois todo mundo tem dificuldade em pronunciar seu nome: Calosito.

Quando eu era criança ele me contava que ganhou este nome devido à um bisavô que havia falecido e quiseram o homenagear colocando seu nome na próxima criança nascida, que azaradamente foi meu pai. Lembro dele falando “que culpa tive eu do cara morrer?” e eu, criança, ficava séria pensando “puxa, melhor chamá-lo só de pai mesmo, para o resto da vida”.

E sim, vou chamá-lo de pai pelo resto da vida. Não o considero o melhor pai do mundo, mas de longe é o pior. Meio bronco demais, meio fechado demais, meio bêbado demais, mas é meu pai. Me trazia balas ou flores todos os dias até os meus 5 anos. Brincava de aviãozinho comigo quando pequena e na adolescência me levava em uma churrascaria diferente cada vez que eu fazia aniversário. Me ensinou a guardar 20% do que eu ganho todo mês, a não parcelar compras quando se existem juros. Sempre dizia para eu a estudar muito “para não ser um estúpido na vida como ele”, mas só por falar isso ele provava que não era tão estúpido assim. Ensinou-me que meninas não devem vestir roupas curtas perto de homens e que sinuca não é jogo de mulher decente, que cabelo tem que ficar sempre elegantemente preso, nunca jogado na cara igual uma desengonçada.

Pai, fora a parte do cabelo jogado na cara igual uma desengonçada, eu fiz tudo certinho. E fiz tudo o que me falou, principalmente estudar. E espero, de coração, que se orgulhe de mim e de meu irmão. Rezo sempre que posso para Deus lhe dar, e a mamãe, a melhor vida que ele puder, e pode ter certeza que eu e meu irmão faremos tudo que estiver ao nosso alcance. Feliz Aniversário!


O presente:

Sem muita criatividade mas inspirada no bom gosto de roupas do meu pai comprei uma calça social, uma camisa social azul, por que vermelha, sua cor preferida, não tinha no seu tamanho, e um cardigã azul. O cardigã foi o presente especial. Estamos chegando no inverno e queria dar algo que aquecesse mais que uma camisa social, então pensei em uma cardigã bacana. Para achar um modelo legal revirei minha memória para lembrar o tipo que ele gosta. E recordei de uma blusa azul estilo “avô” que ele usava que eu e meu irmão adorávamos e pegávamos escondido do armário dele para sair brincar em dias frios. Não preciso dizer que o casaco ficava duas vezes maior que eu e meu irmão, mas era nosso xodó. Devia ser aquela alegria de criança de usar as coisas dos pais para se sentir mais adulto, ou, quem sabe, era só para nos sentirmos mais próximos dele.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Distraída, eu?

Por esses dias ouvi uma história sobre mim numa mesa de um bar que nem eu mesma lembrava. Uma amiga contou que na época em que éramos estagiárias de relações públicas em determinada universidade e trabalhávamos atendendo alunos de engenharia para encaminhar ao mercado de trabalho – época muito divertida, vale dizer – adentrou pela sala um moço que todas repararam, menos eu. Assim que o moço saiu da sala esta colega comenta “Já fiquei com esse menino” e todas fazem seus devidos comentários. Uma meia hora depois, quando o menino já deveria ter chegado para estagiar na empresa a qual o contratou, eu pergunto a minha amiga “Com quem você ficou?”.

A descrição dessa cena gerou boas risadas e a complementação com algumas outras histórias contadas sobre mim me fizeram concluir que SIM, eu sou distraída. Aliás, distraída é pouco, eu sou muito distraída. Daquelas pessoas que avisa “caiu” depois que o sorvete pingou na roupa da pessoa, sabe? E não é maldade, por que simplesmente entre a ação do sorvete quase pingar e pingar eu pensei em uma cena de um filme que o sorvete me lembrou, que tocava determinado som, com tais autores, que falaram tais frases. Ou ainda, eu lembrei que tem sorvete de macadâmia na geladeira e um outro de wisky que nunca experimentei e penso será que se eu tomar ele inteiro eu fico bêbada? Tipo o sagu do restaurante universitário? Nossa que saudade do famoso R.U., como nos divertíamos por R$1,30 – valor da refeição para os universitários na época –, e caiu o sorvete na roupa da pessoa.

O namorado fala que isso é coisa de gente que tem Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH). Pra mim hiperativo é aquela pessoa que não pára quieto um segundo sequer e fala sem parar. Não, essa não sou eu, eu sou calma, nesse sentido. Talvez se mudarmos o nome para Distúrbio do Déficit de Atenção daí combine mais comigo. Déficit eu posso até ter, transtorno jamais. Brincadeiras a parte, afinal, faço 30 coisas ao mesmo tempo, nem sempre termino, o que me frustra muito. Enfim, isso é coisa de namorado querendo arranjar desculpa pra tudo.. Eu me considero apenas distraída, bem distraída, um pouco distraída demais até. Mas funciono muito bem sob pressão. O trabalho é para amanhã? Pode ter certeza que ele vai sair. O projeto tem que ser enviado hoje até às 18 horas? Pode ter certeza que será enviado.

Ou seja, não atrapalho ninguém, os únicos que terão algum problema com isso, serão meus netos. Com todas as minhas divagações quanto tempo será que vou levar para concluir uma história de quando moça? E claro, rezando desde já para não ter alzheimer, senão, deixa pra lá..