terça-feira, 7 de agosto de 2012

Sobre falar mal do anfitrião

Confesso para vocês que escrevi um baita texto falando sobre o nível de ogrice dos portenhos, mas mudei de ideia! Vou contar o porquê.

Primeiro, tive contato com outro brasileiro (acho que de Recife), que veio passar as alguns dias aqui. Pois bem, fomos para um boliche, que é como eles chamam as baladas por aqui, e não conseguíamos obter uma informação coerente sobre valor de entrada e consumação dos caras que ficam na porta controlando a entrada. Segundo o guri de Recife, o qual não recordo o nome, os funcionários do boliche percebiam que ele era brasileiro e o tratavam mal para ele não entrar, ou seja, teoria da conspiração.

E a teoria existe e já é conhecida de todos, sempre ouvimos sobre a tal rivalidade entre Argentina e Brasil, mas eu sempre achei que se limitavam as brincadeiras futebolísticas até que percebi certo ar de superioridade em alguns portenhos durante as interações com brasileiros. Na escola, por exemplo, percebo que as funcionárias tem uma relação boa com o pessoal de outras nacionalidades, o que não acontece muito com os alunos brasileiros. A professora se retorce na cadeira quando alguém fala sobre como algo funciona no Brasil. Talvez isso aconteça justamente porque muita gente chega por aqui cheio de lábia no portunhol e achando que o espanhol é fácil. Quem faz isso é um I-G-N-O-R-A-N-T-E, posso dizer com todas as letras, pois estudei três níveis da língua para ter coragem de chegar aqui e arriscar nas conversas com argentinos.
E devo registrar que contrário ao certo ar de superioridade que mencionei, os portenhos que já estiveram no Brasil e conhecem os brasileiros são fãs  Quando percebem o meu acento brasileiro enquanto falo espanhol fazem mil elogios a terrinha e dizem o quãp somos um povo especial.
Outro ponto de vista é que os portenhos estão ofendidinhos, porque a Argentina já foi uma grande nação e agora o Brasil está na superioridade, economicamente falando. Ou seja, enquanto por aqui o pessoal está vivendo numa crise danada a gente vem pra cá comprar jaqueta de couro. Mas é fato também que grande porcentagem da economia do país é movida pelo Turismo, então não é um bom argumento. Sem contar que os brasileiros tem fama de muita coisa por aqui, mas esses detalhes ficam para outro post, porque a lista de adjetivos é grande.
Último ponto de vista e mais convincente para mim: os portenhos não destratam ninguém, eles são assim mesmo: gaúchos, metidos, machões, falam alto, são objetivos.. É o jeito deles, está na cultura, eles não são assim só com você brasileiro, eles são assim com todo mundo. E se você resolveu passar um tempo aqui, se acostume. Eu estou me acostumando com os atendimentos meia-boca, com as poucas palavras dos taxistas, com as informações pela metade. Mas isso porque sou uma curitibana chata, talvez sirva para me ensinar a ser mais tolerante.

E por que os brasileiros sempre chamam os portenhos de topetudos?
Bem, primeiro porque eles não são tão acalorados e extremistas como os brasileiros e fica aquela sensação de descontentamento da nossa parte. Se eles fossem na nossa casa, daríamos a nossa cama para eles dormirem, mas isso somos nós e não eles. Aprendi que aqui não se pode e não se deve comparar, o que pra mim é quase impossível, posso dizer que é um desafio.
Segundo por que eles tem um orgulho admirável do seu país, eles podem até falar mal da política, do metrô, do governo, da economia, mas aí de você, um cara de fora, falar mal. E melhor, podem falar mal, mas não ficam parados, fazem greves, saem nas ruas protestar. Eu brinco que é a cidade piquete, mas no fundo tenho invejinha, se a quantidade de brazuca se juntasse para fazer alguma exigência provavelmente o governo atenderia muito rápido e ainda com o rabinho entre as pernas, mas somos um povo muito “buena onda” como se diz aqui em Buenos Aires.

Argentina x Chile

E falando de implicância, a rivalidade no futebol fica pequena quando comparada ao tratamento que  os argentinos dão aos chilenos. O espanhol falado no Chile por aqui é extremamente criticado, dizem que falam muito rápido, sem parar, emendando palavras, e que não falam corretamente. Bem, se não falam corretamente eu não sei, mas que falam mais rápido é verdade, por isso estabeleci um parâmetro: quando eu entender um chileno bêbado falando, conseguirei entender o espanhol de qualquer outro país. Ahhh e tem a questão histórica também, Chile e Argentina tiveram grandes richas por conta de conflitos territoriais e por conta do apoio chileno aos ingleses na Guerra das Malvinas.
Enfim, após essa análise e, principalmente, após escutar o menino de Recife falando mal dos portenhos em alto e bom som no meio das ruas de Palermo, percebi o quanto é deselegante falar mal do seu anfitrião. Quase falei pro guri, abaixa a bola amiguinho que você está na casa dos caras, se você está tão insatisfeito vai embora, pronto! Sério, senti vergonha alheia do brasileirinho mal amado e percebi que os portenhos, apesar do jeitão, tem um lado bem bacana, basta saber entendê-los.
Por hoje é só pessoal! Beijos a todos!!!

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Comeram meu Doritos!

Eu sei que era só um Doritos, não vou morrer por causa disso, mas era “meu” Doritos! Comprei especialmente para tomar com a “minha” Quilmes e adivinha só? Sumiu! No momento do desaparecimento não fiquei chocada, por que pensei que a pessoa que havia comido reporia o produto no dia seguinte. Eu mesma tomei uma Heineken de um dos habitantes do alojamento, mas na manhã seguinte comprei outra, coloquei no mesmo lugar e fiz questão de avisar o dono. Mas do meu Doritos nunca mais tive notícias!

Mesmo na minha casa em Curitiba, quando como ou tomo algo que é do meu irmão sempre reponho o produto, e vice-versa. Questão de educação, sabe? Não coloque as mãos no que não lhe pertence, foi o que minha mãe e pai me ensinaram desde pequena. Hoje mais uma surpresa mega desagradável, meu creme dental sumiu do nécessaire que estava no banheiro. Agora terei que sair de casa embaixo de chuva para comprar apenas um creme dental, porque virginiana neurótica que sou tenho pavor de comer e não correr para fazer a devida higiene bucal.  
A japonesa que mora comigo, com aqueles olhinhos pequenos e puxados, porém atenta e esperta como todo oriental, me contou que a moça que trabalha na casa tem mania de surrupiar as coisas dos moradores (além de fazer uma limpezinha bem meia-boca). Estou com coceirinha para fazer uma reclamação formal na Escola, mas julgar sem provas, com base em comentários de terceiros não tem credibilidade nenhuma, eu sei! Além disso, tenho mais habitantes na casa.. É fato que as meninas americanas e japonesas que moram comigo não tem cara de quem precise roubar pasta de dente... mas como diz o ditado engraçadinho “quem vê cara, não vê coração”.. E de gente louca o mundo esta cheio, né não?
Aiii se colocam a mão em minhas comidinhas argentinas!
Só que deixar todas as coisas trancadas na mala, inclusive comida, não tem cabimento. Viver em comunidade é uma coisa muito difícil, viu? Foi um pacote de salgadinho e uma pasta de dente, mas poderia ter sido minha câmera fotográfica, meu iPhone, meu computador. Não é o valor do objeto que classifica o roubo, é o fato de tomar para si algo que pertence a outra pessoa. E sinceramente, desonestidade me deixa bem puta da cara.. Agora eu fico pensando aqui com meus botões “sabe lá o que mais pegaram que eu ainda não percebi”...
Ou, sou que não tenho mais idade para dividir casa com estranhos, vai saber!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Buenos Aires x Curitiba

Então, não dá para atualizar o blog todos os dias né? Tenho que otimizar meu tempo ao máximo nesse um mês, mas nos momentos de descanso eu gosto de escrever aqui minhas aventuras em terras portenhas. Pois bem, essa primeira semana foi de reconhecimento. Ainda estou me familiarizando com a cidade, com os sistemas de transporte público e com a rotina dos argentinos.

Ônibus, achei engraçadinho. Aqui a gente tem que dizer ao motorista para onde vai e ele nos diz o preço que se deve pagar, e não existe cobrador, o motorista digita no sistema o valor escolhido e a máquina ao lado recebe suas moedinhas e dá o troco certinho. Porém não são novos, nem muito limpos, mas por meros 55 centavos de real nem vou exigir maravilhas. E convenhamos, os argentinos podem ser bem topetudos pra muitas coisas, menos para o sistema de transporte coletivo, o nosso modelo curitibano ganha disparado. Metrô ainda não utilizei, me limitei a conhecer os pontos turísticos na Recoleta e próximos dela, para depois cair na cidade de metrô.
Os taxis, bem, é como nas outras cidades, há mais taxi do que gente e basta levantar a mãozinha que já parara um preto e amarelo ao seu lado. Estou começando a achar que Curitiba é exceção também nos sistemas de taxi, mas nesse caso negativamente. Se uma mulher grávida esperar um taxi em dia de chuva ou horário de pico é capaz de parir ali mesmo no meio fio. Aquele nosso problema básico de falta de autorização para veiculação de novos taxis que faz do serviço artigo de luxo, mas por outro lado, impede a superlotação de veículos... Bem, uma longa discussão!

As quadras são largas, então quando um argentino falar que você vai andar dez quadras, acredite serão dez grandes quadras. Os prédios são altos, com fachadas antigas e pés direitos altíssimos e possuem sistema de calefação em todo lugar. Aqui, se investe nisso ou se tem uma hipotermia pela noite. Mentira! Estou exagerando, não posso dizer que estou passando frio aqui em Buenos Aires, hoje, por exemplo, estavam felizes dez graus e tinha sol. Bem, se for considerar o nosso tempinho filho da mãe em Curitiba, não vou passar tantos perrengues aqui por conta de frio. 
Minhas reclamações até agora são quanto ao lixo. Bem que me disseram que não encontraria uma cidade muito cuidada, e de fato, no primeiro dia fiquei assustada com a quantidade de lixo na minha rua que fica em um bairro nobre da cidade. Mas isso não tem só haver com limpeza pública, como também com conscientização da população. E por falar em conscientização, até agora não vi lixeiras de separação de lixo, no meu apartamento, por exemplo, o lixo é misturado. Posso estar generalizando, mas quando falei em sala de aula, sobre destinação correta de lixo e sistemas de reciclagem a turma toda ficou curiosa.

Outra coisa que está um pouquinho difícil de me acostumar é a rotina dos notívagos portenhos. O dia deles começa duas horas depois da nosso, almoços são ao meio dia, porém o meio dia deles é as duas da tarde, jantar as onze da noite e com comida pesada, carne, vinho, sobremesas com sorvete e doce de leite, acordam tarde e pela quantidade de comida que ingeriram a noite, o café da manhã fica limitad a uma xícara de café. Eu cresci com a teoria que devemos tomar café da manhã como um rei e jantar como um mendigo, então ainda estou penando para acostumar com essa diferença. Ahh, as baladas por exemplo começam às três da madrugada, em Curitiba esse horário eu já estou pensando seriamente em ir para casa dormir.
Ficam aqui algumas diferenças e algumas curiosidades básicas. Nada que qualquer pessoa não possa descobrir se ler qualquer artigo sobre o país. Mas aqui você pode ler sob o meu ponto de vista, ou seja, o de uma curitibana chata!

Beijos