Confesso
que já fui do tipo que exorcizava alguns tipos de leituras como autoajuda ou
essas trilogias de romances juvenis que viraram moda. Mas parei de julgá-los
[os livros] quando percebi que meus próprios amigos os liam. Preferi me
converter a filosofia do "o importante é ler, seja lá qual for a leitura”.
Conheci o encanto das letras quando minha mãe lia para eu dormir um livro de parábolas, antes mesmo de eu aprender a ler. Era uma moral da história por dia para mim e
uma oportunidade para minha mãe ser criativa na educação. Cada vez que eu
pensava em mentir quando criança, lembrava do garoto que mentia tanto e o tempo
todo e que na única e última vez que falou a verdade, gritando por socorro enquanto se
afogada, não teve atenção de ninguém, pois todos pensaram que fosse outra
de suas mentiras.
Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, respondia: escritora. Hoje eu penso, que criança no mundo responde "escritora" para tal pergunta? Na intenção de tornar verídico o desejo ainda
criança eu escrevia poemas, poemas infantis,
lógico. Os temas variavam entre a abelhinha curiosa, sorvete de arco-íris e as flores mal criadas. Em meio a uma de nossas mudanças de endereço esses manuscritos
com direito a ilustrações da autora se perderam. Quem dera minha mãe tivesse
guardado essas modestas e coloridas folhinhas.
Certa
vez, na faculdade, um conhecido e premiado autor ministrou aula de redação para a minha turma. Critovam Tezza é seu nome. Que alegria ter aula com um autor
de verdade, pensava eu e concluía que deveria sugar o máximo de sua experiência
naquelas aulas. Um dia, o professor deu um trabalho para aqueles alunos,
entregou uma lista de cem livros e pediu que em duplas escolhêssemos uma daquelas
obras e criativamente contássemos a história para a turma.
Eu
e minha dupla, não lembro bem por qual motivo, escolhemos "Cem Anos de Solidão",
do Gabriel García Marquez. Para a apresentação, como muitas das demais duplas,
pensamos no óbvio: montar uma peça de teatro. Porém, um dia antes da
apresentação, tínhamos o figurino e não tínhamos as cenas prontas. Lembro que
sentei na mesa do quarto de um ex-namorado e comecei a escrever sobre o livro.
Resultado: contei as quase quatrocentas páginas do livro em um poema de doze
estrofes com quadras de versos rimados. Orgulho de responder “SIM” quando o professor perguntou se fomos nós mesmas que escrevemos
o poema depois do recitá-lo para a classe.
O
prazer imensurável da leitura me trouxe também a coragem de escrever, sejam os poemas infantis ou esses posts no blog. Aqui,
posso escrever sobre qualquer coisa, sem a pretensão de
que milhões leiam ou de tornar-me uma blogueira famosa. Escrever pra mim é uma
forma de terapia e eu escrevo o tempo todo, independe de postar no blog ou não. Sentar
para escrever é mais barato que sentar em um divã. Expor emoções,
sentimentos em forma escrita é melhor e mais divertido que ler um
livro de autoajuda, ao menos para mim.
O
último livro que li e me emocionou muito foi Cuentos de Eva Luna, de Isabel
Allende. Sou muito fã de escritores latinoamericanos, considero esse realismo fantástico
deles sensacional. Aproveitei a minha viagem para Buenos Aires nesse ano e
comprei várias obras em espanhol: Allende, García Marquez, Benedetti e
Cortázar. E por falar em Buenos Aires, todos devem conhecer o El Ateneo, um
teatro/livraria lindíssimo. Na lista “coisas para se fazer antes de morrer”
está "visitar livrarias dignas da paixão pela leitura".
Enfim,
assim como as morais das histórias contadas pela minha mãe, assim como
completar a leitura da lista de livros indicada pelo Tezza que também entrou
para a lista das “coisas para se fazer antes de morrer”, tenho certeza que
podemos tirar grandes recompensas desses nossos companheiros. Como diz a propaganda do American Express "Com ele posso estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, conhecer gente interessante, mesmo estando sozinha. Cada página que eu viro é uma nova porta que se abre, é um novo lugar que eu entro".
Agora,
vou voltar para o meu Arturo Bandini!
Beijos
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