sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Minha relação com as letras

Quem me conhece sabe que eu tenho paixão por leitura. Por mim, eu moraria em uma biblioteca ou perfumaria minha casa com cheiro de livro novo. Quando passo em frente a uma livraria é inevitável uma rápida olhada nos lançamentos. Não tenho a quantidade de livros que gostaria na minha estante, nem sempre tive muito dinheiro para investir em livros, mas tive a sorte de descobrir as bibliotecas públicas bem cedo na minha vida.

Confesso que já fui do tipo que exorcizava alguns tipos de leituras como autoajuda ou essas trilogias de romances juvenis que viraram moda. Mas parei de julgá-los [os livros] quando percebi que meus próprios amigos os liam. Preferi me converter a filosofia do "o importante é ler, seja lá qual for a leitura”.

Conheci o encanto das letras quando minha mãe lia para eu dormir um livro de parábolas, antes mesmo de eu aprender a ler. Era uma moral da história por dia para mim e uma oportunidade para minha mãe ser criativa na educação. Cada vez que eu pensava em mentir quando criança, lembrava do garoto que mentia tanto e o tempo todo e que na única e última vez que falou a verdade, gritando por socorro enquanto se afogada, não teve atenção de ninguém, pois todos pensaram que fosse outra de suas mentiras.

Quando me perguntavam o que eu queria ser quando crescer, respondia: escritora. Hoje eu penso, que criança no mundo responde "escritora" para tal pergunta? Na intenção de tornar verídico o desejo ainda criança eu escrevia poemas, poemas infantis, lógico. Os temas variavam entre a abelhinha curiosa, sorvete de arco-íris e as flores mal criadas. Em meio a uma de nossas mudanças de endereço esses manuscritos com direito a ilustrações da autora se perderam. Quem dera minha mãe tivesse guardado essas modestas e coloridas folhinhas.

Certa vez, na faculdade, um conhecido e premiado autor ministrou aula de redação para a minha turma. Critovam Tezza é seu nome. Que alegria ter aula com um autor de verdade, pensava eu e concluía que deveria sugar o máximo de sua experiência naquelas aulas. Um dia, o professor deu um trabalho para aqueles alunos, entregou uma lista de cem livros e pediu que em duplas escolhêssemos uma daquelas obras e criativamente contássemos a história para a turma.

Eu e minha dupla, não lembro bem por qual motivo, escolhemos "Cem Anos de Solidão", do Gabriel García Marquez. Para a apresentação, como muitas das demais duplas, pensamos no óbvio: montar uma peça de teatro. Porém, um dia antes da apresentação, tínhamos o figurino e não tínhamos as cenas prontas. Lembro que sentei na mesa do quarto de um ex-namorado e comecei a escrever sobre o livro. Resultado: contei as quase quatrocentas páginas do livro em um poema de doze estrofes com quadras de versos rimados. Orgulho de responder “SIM” quando o professor perguntou se fomos nós mesmas que escrevemos o poema depois do recitá-lo para a classe.

O prazer imensurável da leitura me trouxe também a coragem de escrever, sejam os poemas infantis ou esses posts no blog. Aqui, posso escrever sobre qualquer coisa, sem a pretensão de que milhões leiam ou de tornar-me uma blogueira famosa. Escrever pra mim é uma forma de terapia e eu escrevo o tempo todo, independe de postar no blog ou não. Sentar para escrever é mais barato que sentar em um divã. Expor emoções, sentimentos em forma escrita é melhor e mais divertido que ler um livro de autoajuda, ao menos para mim.

O último livro que li e me emocionou muito foi Cuentos de Eva Luna, de Isabel Allende. Sou muito fã de escritores latinoamericanos, considero esse realismo fantástico deles sensacional. Aproveitei a minha viagem para Buenos Aires nesse ano e comprei várias obras em espanhol: Allende, García Marquez, Benedetti e Cortázar. E por falar em Buenos Aires, todos devem conhecer o El Ateneo, um teatro/livraria lindíssimo. Na lista “coisas para se fazer antes de morrer” está "visitar livrarias dignas da paixão pela leitura".

Enfim, assim como as morais das histórias contadas pela minha mãe, assim como completar a leitura da lista de livros indicada pelo Tezza que também entrou para a lista das “coisas para se fazer antes de morrer”, tenho certeza que podemos tirar grandes recompensas desses nossos companheiros. Como diz a propaganda do American Express "Com ele posso estar em mais de um lugar ao mesmo tempo, conhecer gente interessante, mesmo estando sozinha. Cada página que eu viro é uma nova porta que se abre, é um novo lugar que eu entro".

Agora, vou voltar para o meu Arturo Bandini!

Beijos

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