Eu confesso que não tenho muita paciência para o interior e que três dias é o máximo de tempo que consigo passar entre plantações e animais. Porém, quando era criança, a vontade dos meus pais prevalecia sobre a minha e eu ainda não conhecia computador, então passava boa parte das férias em meio às plantações de fumo, pinus e eucalipto.
Itaiópolis, norte de Santa Catarina, fica pertinho de Mafra, adjunta ao rio que divide os estados do Paraná e Santa Catarina. Tem cerca de 20 mil habitantes e sua economia é movida por madeira, erva mate e fumo. Infelizmente, depois de adulta, descobri que as gigantescas plantações de pinus e eucaliptos que me encantavam e ao mesmo tempo me assombravam quando criança, hoje somente preenchem a predação dos recursos naturais da região. Uma pena!
Minha avó morava nas proximidades da cidade. Hoje, visito apenas um tio que possui um sítio na região. Infelizmente, se a família não é unida todos acabam se afastando depois da morte dos anciãos. São três horas viajando de carro em estrada de terra a partir do centro de Itaiópolis até encontrar o sítio. Chegando lá, os labradores vêm nos receber no portão. Os novilhos são recolhidos ao anoitecer e o papagaio falante, no meio da sala, fica tímido com a presença de estranhos.
Plantação de fumo |
Lá, se o marido ou esposa morre, rapidinho os viúvos se casam novamente. A diversão dos mais velhos é contar quem morreu, quem está vivo e quais doenças afligiram os sobreviventes. Eles acordam às 5h30 da manhã para ir à roça, minha tia só pára poucos instantes para compartilhar o chimarrão, fora isso, intercala o preparo do café da manhã, almoço, café da tarde e janta com as rotinas da roça. Tenho a impressão que ela passa o dia todo cozinhando e ela faz isso com uma habilidade e rapidez impressionantes.
Meus primos me fazem parecer uma suíça. Tratam-me como se eu fosse riquíssima e menosprezasse tudo que é do interior. Para eles, minha cerveja custa noventa reais e meu shampoo é de ouro. Mas eles sabem que não sou uma pessoa arrogante e tudo acaba virando uma grande piada. Mal sabem eles que a casa que eles moram no sítio equivale a duas da minha e que aqui na cidade moramos empilhados uns em cima dos outros.
Dei azar, o tempo estava chuvoso e não consegui visitar as redondezas e ver todo seu verde, seus lagos e seus animais. Não consegui andar à cavalo, tirar leite de vaca, recolher os ovos das galinhas, dar comida aos porcos, colocar o fumo pra secar, coisas que eu fazia nas férias da infância no interior. O programa foi o rodizio do chima, botar a conversa em dia em meios as várias refeições carinhosamente preparadas e assistir Rodrigo Faro na TV com meus tios e primos. Não preciso citar que não tinha internet, muito menos sinal de celular.
Percebi como eles são felizes com pouco, porém esse pouco é totalmente suficiente. Eles não precisam de roupa de marca, de cafés especiais, de chocolates finos, de restaurantes chiques, de cerveja importada e tudo para eles é motivo de risadas. São felizes, ao natural, literalmente! Percebi como nós somos frescos e fúteis e como não valorizamos as coisas que estão na nossa frente. O alface que comemos, a carne assada que preparamos, o queijo dos nossos sanduíches, até mesmo o cigarro que fumamos. Tudo tem origem da terra e mal sabemos que a cinco horas de Curitiba, ou menos, tudo isso é produzido para nosso bem estar.
Imitamos ironicamente as pessoa que falam com o sotaque do interior, sem nos darmos conta que se não fossem eles sabe Deus o que estaríamos comendo agora. Já pensou se todos os agricultores do mundo resolvessem fazer greve, mudar de rumo, tentar a sorte na cidade grande?
Fato, quem não foi criado na rotina deles não se acostuma. Eu mesma, não consigo ficar muito tempo no sítio meu tio, por mais lindo e receptivo que seja. Mas quero deixar registrado aqui no blog os meus agradecimento à eles, meus tios e primos, por nos receber tão bem e à todos os agricultores do mundo pelo alimento de cada dia. Ainda bem que existe vida no interior!
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