quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Moça urbana vai para o interior

Nesse feriado de 12 de outubro, dia da padroeira do Brasil, quando se comemora o dia das crianças, eu me dei de presente uma viagem para o interior de Santa Catarina, um lugar que me deu boas histórias da minha infância. Na verdade, eu não me dei de presente, me deram. Minha mãe na saudade da terra natal e da família me levou na bagagem.

Eu confesso que não tenho muita paciência para o interior e que três dias é o máximo de tempo que consigo passar entre plantações e animais. Porém, quando era criança, a vontade dos meus pais prevalecia sobre a minha e eu ainda não conhecia computador, então passava boa parte das férias em meio às plantações de fumo, pinus e eucalipto.

Itaiópolis, norte de Santa Catarina, fica pertinho de Mafra, adjunta ao rio que divide os estados do Paraná e Santa Catarina. Tem cerca de 20 mil habitantes e sua economia é movida por madeira, erva mate e fumo. Infelizmente, depois de adulta, descobri que as gigantescas plantações de pinus e eucaliptos que me encantavam e ao mesmo tempo me assombravam quando criança, hoje somente preenchem a predação dos recursos naturais da região. Uma pena!

Minha avó morava nas proximidades da cidade. Hoje, visito apenas um tio que possui um sítio na região. Infelizmente, se a família não é unida todos acabam se afastando depois da morte dos anciãos. São três horas viajando de carro em estrada de terra a partir do centro de Itaiópolis até encontrar o sítio. Chegando lá, os labradores vêm nos receber no portão. Os novilhos são recolhidos ao anoitecer e o papagaio falante, no meio da sala, fica tímido com a presença de estranhos.
Plantação de fumo

Lá, se o marido ou esposa morre, rapidinho os viúvos se casam novamente. A diversão dos mais velhos é contar quem morreu, quem está vivo e quais doenças afligiram os sobreviventes. Eles acordam às 5h30 da manhã para ir à roça, minha tia só pára poucos instantes para compartilhar o chimarrão, fora isso, intercala o preparo do café da manhã, almoço, café da tarde e janta com as rotinas da roça. Tenho a impressão que ela passa o dia todo cozinhando e ela faz isso com uma habilidade e rapidez impressionantes.

Meus primos me fazem parecer uma suíça. Tratam-me como se eu fosse riquíssima e menosprezasse tudo que é do interior. Para eles, minha cerveja custa noventa reais e meu shampoo é de ouro. Mas eles sabem que não sou uma pessoa arrogante e tudo acaba virando uma grande piada. Mal sabem eles que a casa que eles moram no sítio equivale a duas da minha e que aqui na cidade moramos empilhados uns em cima dos outros.

Dei azar, o tempo estava chuvoso e não consegui visitar as redondezas e ver todo seu verde, seus lagos e seus animais. Não consegui andar à cavalo, tirar leite de vaca, recolher os ovos das galinhas, dar comida aos porcos, colocar o fumo pra secar, coisas que eu fazia nas férias da infância no interior. O programa foi o rodizio do chima, botar a conversa em dia em meios as várias refeições carinhosamente preparadas e assistir Rodrigo Faro na TV com meus tios e primos. Não preciso citar que não tinha internet, muito menos sinal de celular.

Percebi como eles são felizes com pouco, porém esse pouco é totalmente suficiente. Eles não precisam de roupa de marca, de cafés especiais, de chocolates finos, de restaurantes chiques, de cerveja importada e tudo para eles é motivo de risadas. São felizes, ao natural, literalmente! Percebi como nós somos frescos e fúteis e como não valorizamos as coisas que estão na nossa frente. O alface que comemos, a carne assada que preparamos, o queijo dos nossos sanduíches, até mesmo o cigarro que fumamos. Tudo tem origem da terra e mal sabemos que a cinco horas de Curitiba, ou menos, tudo isso é produzido para nosso bem estar.

Imitamos ironicamente as pessoa que falam com o sotaque do interior, sem nos darmos conta que se não fossem eles sabe Deus o que estaríamos comendo agora. Já pensou se todos os agricultores do mundo resolvessem fazer greve, mudar de rumo, tentar a sorte na cidade grande?

Fato, quem não foi criado na rotina deles não se acostuma. Eu mesma, não consigo ficar muito tempo no sítio meu tio, por mais lindo e receptivo que seja. Mas quero deixar registrado aqui no blog os meus agradecimento à eles, meus tios e primos, por nos receber tão bem e à todos os agricultores do mundo pelo alimento de cada dia. Ainda bem que existe vida no interior!

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