Confesso para vocês
que escrevi um baita texto falando sobre o nível de ogrice dos portenhos, mas
mudei de ideia! Vou contar o porquê.
Primeiro, tive
contato com outro brasileiro (acho que de Recife), que veio
passar as alguns dias aqui. Pois bem, fomos para um boliche, que é como eles
chamam as baladas por aqui, e não conseguíamos obter uma informação coerente
sobre valor de entrada e consumação dos caras que ficam na porta controlando a entrada. Segundo o guri de Recife, o qual não recordo o nome, os funcionários do boliche percebiam que ele era
brasileiro e o tratavam mal para ele não entrar, ou seja, teoria da
conspiração.
E a teoria existe e
já é conhecida de todos, sempre ouvimos sobre a tal rivalidade entre Argentina
e Brasil, mas eu sempre achei que se limitavam as brincadeiras futebolísticas
até que percebi certo ar de superioridade em alguns portenhos durante as
interações com brasileiros. Na escola, por exemplo, percebo que as funcionárias
tem uma relação boa com o pessoal de outras nacionalidades, o que não acontece muito com os alunos brasileiros. A professora se
retorce na cadeira quando alguém fala sobre como algo funciona no Brasil. Talvez
isso aconteça justamente porque muita gente chega por aqui cheio de lábia no
portunhol e achando que o espanhol é fácil. Quem faz isso é um
I-G-N-O-R-A-N-T-E, posso dizer com todas as letras, pois estudei três níveis da
língua para ter coragem de chegar aqui e arriscar nas conversas com argentinos.
E devo registrar que contrário ao certo ar de superioridade que mencionei, os portenhos que já estiveram no Brasil e conhecem os brasileiros são fãs Quando percebem o meu acento brasileiro enquanto falo espanhol fazem mil elogios a terrinha e dizem o quãp somos um povo especial.
Outro ponto de vista
é que os portenhos estão ofendidinhos, porque a Argentina já foi uma grande
nação e agora o Brasil está na superioridade, economicamente falando. Ou seja, enquanto
por aqui o pessoal está vivendo numa crise danada a gente vem pra cá comprar
jaqueta de couro. Mas é fato também que grande porcentagem da economia do país
é movida pelo Turismo, então não é um bom argumento. Sem contar que os brasileiros tem fama de muita coisa por aqui, mas esses detalhes ficam para outro post, porque a lista de adjetivos é grande.
Último ponto de vista
e mais convincente para mim: os portenhos não destratam ninguém, eles são assim
mesmo: gaúchos, metidos, machões, falam alto, são objetivos.. É o jeito deles,
está na cultura, eles não são assim só com você brasileiro, eles são assim com
todo mundo. E se você resolveu passar um tempo aqui, se acostume. Eu estou me
acostumando com os atendimentos meia-boca, com as poucas palavras dos taxistas,
com as informações pela metade. Mas isso porque sou uma curitibana chata,
talvez sirva para me ensinar a ser mais tolerante.
E por que os
brasileiros sempre chamam os portenhos de topetudos?
Bem, primeiro porque eles
não são tão acalorados e extremistas como os brasileiros e fica aquela sensação
de descontentamento da nossa parte. Se eles fossem na nossa casa, daríamos a nossa cama para eles dormirem, mas isso somos nós e não eles. Aprendi que aqui não se pode e não se deve comparar, o que pra mim é quase impossível, posso dizer que é um desafio.
Segundo por que eles tem um orgulho admirável do seu país,
eles podem até falar mal da política, do metrô, do governo, da economia, mas aí
de você, um cara de fora, falar mal. E melhor, podem falar mal, mas não ficam parados, fazem
greves, saem nas ruas protestar. Eu brinco que é a cidade piquete, mas no fundo
tenho invejinha, se a quantidade de brazuca se juntasse para fazer alguma
exigência provavelmente o governo atenderia muito rápido e ainda com o rabinho entre as pernas, mas somos um povo muito
“buena onda” como se diz aqui em Buenos Aires.
Argentina x Chile
E falando de
implicância, a rivalidade no futebol fica pequena quando comparada ao
tratamento que os argentinos dão aos chilenos. O espanhol falado no Chile por aqui é
extremamente criticado, dizem que falam muito rápido, sem parar, emendando
palavras, e que não falam corretamente. Bem, se não falam corretamente eu não
sei, mas que falam mais rápido é verdade, por isso estabeleci um parâmetro: quando
eu entender um chileno bêbado falando, conseguirei entender o espanhol de
qualquer outro país. Ahhh e tem a questão histórica também, Chile e Argentina
tiveram grandes richas por conta de conflitos territoriais e por conta do apoio
chileno aos ingleses na Guerra das Malvinas.
Enfim, após essa
análise e, principalmente, após escutar o menino de Recife falando mal dos
portenhos em alto e bom som no meio das ruas de Palermo, percebi o quanto é
deselegante falar mal do seu anfitrião. Quase falei pro guri, abaixa a bola amiguinho que você está na casa dos caras, se você está tão insatisfeito vai
embora, pronto! Sério, senti vergonha alheia do brasileirinho mal amado e
percebi que os portenhos, apesar do jeitão, tem um lado bem bacana, basta saber entendê-los.
Por hoje é só
pessoal! Beijos a todos!!!