Novena? sim, para quem não me conhece eu vou na novena as quartas-feiras. Pode não
parecer, eu sei, não sou um doce de pessoa, não faço o bem ao próximo (mas
também não faço o mal), não me doo às causas e ideais (mas também não as
desmereço), não faço caridade (desconfio da filantropia), já atropelei algumas
pessoas de caminhão várias vezes (em pensamento, obviamente), xingo muito com
meus botões e falo palavrão adoidado.
Mas tudo bem, não me esforço muito para ser o cordeiro,
desde criança tenho muito mais aptidão para ovelha negra, mas não falarei sobre
isso agora. O que quero dizer é que até os porra-loucas tem Deus no coração ou, no mínimo, algo para acreditar.
Ahh e também sou egoísta, pois vou à novena rezar por minhas
intenções particulares, como todas as outras pessoas do mundo, e era exatamente
sobre isso que eu queria falar. As pessoas terminam uma oração e
saem da igreja se empurrando e se encarando de cara feia. Não existe o “aguarde
o desembarque” nem na saída da missa.
Tem um momento específico, o tantum ergo – aqueles versos de
São Tomás de Aquino cantados durante adorações e bençãos do santíssimo
sacramento – quando as pessoas se ajoelham e rezam no final da novena. Nesta quarta, um
daqueles casais fofos que vão juntos de mãos dadas para a igreja durante a vida
toda quase derrubou uma moça ajoelhada no meio de sua oração na tentativa de
chegar mais perto da saída da igreja antes dos demais.
Com tudo isso, percebi que quando o padre abençoa no final
da missa “ide em paz e que o senhor vos acompanhe” as pessoas respondem “graças
a Deus” no sentido de alívio e não no sentido de gratidão. Fico um pouco
decepcionada com isso.
Você reza “perdoai nossas ofensas, assim como nos perdoamos
a quem nos tem ofendido” e virando as costas para a imagem da santa, reclama do velhinho na frente que anda sentido a saída vagarosamente por causa da idade. Óbvio que não espero que as pessoas sejam hipócritas e finjam uma bondade inexistente, mas dá para ser pelo menos educado com os demais até chegar em sua própria casa? Entre suas quatro paredes cada um pode fazer o que quiser, desde que não perturbe os vizinhos, claro. Mas enquanto estiver em sociedade, o respeito ao próximo é o mínimo que alguém pode fazer para honrar o que o cara disse sobre “fazer o bem, sem olhar a quem”.
Ilustração de Bina Rikari