sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quartas de novena

Hoje na saída da novena percebi como as pessoas são egoístas. Não que eu não tivesse certeza disso antes, mas fiquei impressionada como as pessoas conseguem ser egoístas mesmo dentro de um ambiente de oração para aquele cara que só pediu para “fazer o bem, sem olhar a quem”.

Novena? sim, para quem não me conhece eu vou na novena as quartas-feiras. Pode não parecer, eu sei, não sou um doce de pessoa, não faço o bem ao próximo (mas também não faço o mal), não me doo às causas e ideais (mas também não as desmereço), não faço caridade (desconfio da filantropia), já atropelei algumas pessoas de caminhão várias vezes (em pensamento, obviamente), xingo muito com meus botões  e falo palavrão adoidado.
Mas tudo bem, não me esforço muito para ser o cordeiro, desde criança tenho muito mais aptidão para ovelha negra, mas não falarei sobre isso agora. O que quero dizer é que até os porra-loucas tem Deus no coração ou, no mínimo, algo para acreditar. 
Ahh e também sou egoísta, pois vou à novena rezar por minhas intenções particulares, como todas as outras pessoas do mundo, e era exatamente  sobre isso que eu queria falar. As pessoas terminam uma oração e saem da igreja se empurrando e se encarando de cara feia. Não existe o “aguarde o desembarque” nem na saída da missa.
Tem um momento específico, o tantum ergo – aqueles versos de São Tomás de Aquino cantados durante adorações e bençãos do santíssimo sacramento – quando as pessoas se ajoelham e rezam no final da novena. Nesta quarta, um daqueles casais fofos que vão juntos de mãos dadas para a igreja durante a vida toda quase derrubou uma moça ajoelhada no meio de sua oração na tentativa de chegar mais perto da saída da igreja antes dos demais.
Com tudo isso, percebi que quando o padre abençoa no final da missa “ide em paz e que o senhor vos acompanhe” as pessoas respondem “graças a Deus” no sentido de alívio e não no sentido de gratidão. Fico um pouco decepcionada com isso.
Você reza “perdoai nossas ofensas, assim como nos perdoamos a quem nos tem ofendido” e virando as costas para a imagem da santa, reclama do velhinho na frente que anda sentido a saída vagarosamente por causa da idade.

Óbvio que não espero que as pessoas sejam hipócritas e finjam uma bondade inexistente, mas dá para ser pelo menos educado com os demais até chegar em sua própria casa? Entre suas quatro paredes cada um pode fazer o que quiser, desde que não perturbe os vizinhos, claro. Mas enquanto estiver em sociedade, o respeito ao próximo é o mínimo que alguém pode fazer para honrar o que o cara disse sobre “fazer o bem, sem olhar a quem”.

 
Ilustração de Bina Rikari