segunda-feira, 19 de março de 2012

Minha relação de amor e ódio com tecnologias



Nunca fui muito ligada em tecnologias, sempre tive bons amigos especialistas em informática para salvar minha vida quando eu precisava. Mas também nunca fui uma imbecíl no assunto, modestamente sempre tentei ficar a par das novidades tecnológicas, até mesmo para a própria profissão.

Em 2010 descobri o iPhone. Herdei um modelo velhinho e usado de um ex-namorado e desde então não sei mais viver sem essa tecnologia. Antes, não entendia todo o culto a marca da maçazinha, hoje, idolatro o falecido gênio que fez um telefone sem botões. Sou adepta do discurso de que todo mundo deveria ter um iPhone.

Mas como tudo na vida, o iPhone também tem seus prós e contras.

Desde que me conheço por gente gostei de agendas. Colocar Feliz Ano Novo na primeira página da agenda e imaginar todos os acontecimentos para aquele ano era algo mágico. Só menos mágico do que abrir a agenda cinco, seis, dez anos depois e relembrar como você era e pensava na época. Além da nostalgia e saudosismo de todos acontecimentos encantadora e coloridamente registrados nas velhas folhas.

Ano passado aboli inesperadamente a agenda de papel da minha vida. O iPhone me avisava de todos os compromissos já me dando local, horário e um mapa para facilitar o trajeto. Ele sabe do meu ciclo menstrual, dos horários dos meus remédios, do meu horóscopo diário. Se eu quiser sair ele me diz em qual cinema está passando a sessão de minha preferência ou qual bar tem promoções bacanas para o dia, mas se eu quiser ficar em casa ele me diz a programação de filmes da TV a cabo e ainda me passa a receita de um bolo novo .

Chegou até a preparar uma escala de exercícios físicos para mim, mas como lhe falta (ou eu não descobri ainda) um aplicativo motivador que me grite todos os dias “vai malhar sua gorda”, a escala não é muito utilizada. E por ele eu me atualizo, tem jornal, revista, TV, além da conexão com os amigos, seja por redes sociais ou aplicativos que me permitem mandar torpedos e fazer ligações de graça via internet, como skype, viber, whatsapp.

Enfim, a minha vida está praticamente dentro do iPhone. Com tudo isso para que eu iria querer uma agenda de papel? A do ano passado está lá jogada no canto vazia e a desse ano eu nem escrevi feliz ano novo no dia primeiro de janeiro. E pensando nisso me dá uma dor futura no coração, por saber que daqui cinco, seis, dez anos eu vou olhar a agenda do ano de 2012 e não vou ter o que recordar, por que não tem nada nela escrita.

Nas agendas dos anos anteriores eu me redescubro. Em cada acontecimento registrado tinha minha opinião pessoal sobre aquele determinado momento. Percebo como eu era romântica, poética, sonhadora e valorizava a vida.

Hoje sou prática, resolvida e objetiva, tanto a ponto de resolver tudo pelo celular. E isso de certa maneira me entristece. Como fui ficar tão dependente de um objeto que se for roubado amanhã vai parecer que perdi dois anos da minha vida?

Claro, lembranças ficam na memória e no coração, mas ela vai se moldando de acordo com o seu pensamento e ao longo de sua história de vida. Memórias escritas não mudam e te lembram da pessoa que você se orgulhou um dia em ser. Ainda não sei como fazer o celular me dar essa sensação.

O iPhone me deu praticidade, mas me tirou um pouco de poesia.